sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Taioba não é couve: uma análise crítica do termo “neopentecostal”

Minha esposa é uma apreciadora dos alimentos verdes. Todos os dias ela prepara alguma verdura no almoço. Um dia desses, ela me disse: "amor, vou fazer taioba hoje!"; e acrescentou: "veja como as folhas da taioba estão bonitas!". Ao olhar a verdura, constatei que não era taioba, e sim couve. Gentilmente a corrigi (com aquele leve sorrisinho), dizendo: "Amor, eu gosto muito quando você prepara taioba, mas o que você tem aí para cozinhar hoje não é taioba, mas couve". Gargalhadas pra cá e pra lá. Após alguns minutos estávamos comendo, com alegria, a nossa couve com angu (ela é mineira uai!). Confundir nomes, termos, expressões é uma prática comum. Muitos irmãos em Cristo gostam de fazer uma piadinha com o meu nome: "E aí Jonas... não desobedece não, hein, se não quiser ir parar na barriga da baleia!". Mas o meu nome não é Jonas, mas Jonathas. Não é o profeta fujão, mas o melhor amigo do rei Davi. Deixa pra lá... nem os corrijo mais. Casinhos pessoais à parte, há um movimento religioso crescente no país que tem sido alvo de muitos debates e estudos entre os cientistas sócias, teólogos, filósofos e estudiosos em geral. Trata-se do "fenômeno mais recente, integrante e explosivo do ‘protestantismo’ tupiniquim", segundo Alderi Souza de Matos*. Estamos falando das igrejas neopentecostais, denominada por alguns de "pentecostalismo autônomo", em virtude de seus contrastes com os grupos mais antigos desse movimento. O neopentecostalismo, conforme praticado em muitas igrejas brasileiras, não possui relação alguma com o pentecostalismo clássico, do qual fazem parte os “protestantes pentecostais, herdeiros daquela igreja original, dirigida por um negro caolho [Willian Seymour]..., mas que abalaria os alicerces religiosos do mundo”, de acordo com o bispo anglicano Robinson Cavalcanti**. O termo grego “neo” significa “novo”, “recente”. Uma avaliação honesta das igrejas neopentecostais irá revelar sinais preocupantes nos seus ensinos e práticas. O neopentecostalismo - com suas aberrações hermenêuticas (livre interpretação ao invés de livre exame das Escrituras), seu sincretismo místico, seu experiencialismo acentuado, seu antiintelectualismo, sua teologia da prosperidade e quebra de maldição hereditária, seu triunfalismo materialista, seu pragmatismo mercantilista, sua exploração comercial da fé, seu medianismo evangélico (valorização das “revelações” acima da interpretação correta das Escrituras), seu “deus Papai Noel”, seu evangelho “varinha de condão”, suas palavras cabalísticas para abrir todas as portas dos tesouros de Deus, seu relacionamento utilitarista com o Sagrado - não se trata de um “novo” pentecostalismo e sim de um “pseudo” (falso) pentecostalismo. Robinson Cavalcanti assim coloca: “Agora, todo teólogo, historiador ou sociólogo da religião sérios, perceberá a inadequação do termo “protestante” ou “evangélico” (por absoluta falta de identificação caracterizadora) com o impropriamente chamado “neo-pentecostalismo”, na verdade seitas para-protestantes pseudo-pentecostais (universais, internacionais, mundiais, galáxicas ou cósmicas), e que é algo perverso e desonesto interpretar e generalizar o protestantismo, e, mais ainda, o evangelicalismo brasileiro, a partir das mesmas”. Os falsos ensinadores sempre foram um problema para a Igreja de Cristo. Desde os tempos da Igreja Antiga eles foram desmascarados e combatidos pelos apóstolos e polemistas. O pentecostalismo cresceu explosivamente e, quando qualquer instituição, grupo ou movimento social cresce, é inevitável que ao lado do crescimento do trigo haja um aumento significativo do joio. Conforme observa Matos, “o neopentecostalismo representa um grande desafio para as igrejas históricas e mesmo para as pentecostais clássicas. Esse movimento tem encontrado novas formas de atrair as massas que não estão sendo alcançadas pelas igrejas mais antigas”. Meu coração não está cheio de odiosidade ou orgulho denominacional. Acredito sim que há muita gente séria, cheia do Espírito Santo (o que é demonstrado em suas obras de justiça), buscando crescer na graça e no conhecimento de Cristo (devocionalidade e discipulado) dentro dessas igrejas neopentecostais. Reconheço que o grande problema, como conclui Matos, está “nas megaigrejas e seus líderes centralizadores, ávidos de fama, poder e dinheiro”. Líderes que enganam o povo por interesses gananciosos, verdadeiros “numerólatras” (querem templos cheios de crentes espiritualmente e biblicamente vazios), quando deveriam transmitir-lhe com fidelidade todos os conselhos de Deus. Há muita taioba sendo confundida com couve.Que o Pai das Luzes nos dê discernimento... *MATOS, Alderi Souza de. A Integridade do Evangelho: uma avaliação do neopentecostalismo. **CAVALCANTI, Robinson. Deus Não Nos Livre de Um País Evangélico.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

São José da Tapera e a Reflexão Sobre as Parcerias Cristãs

Mãe segura filhos desnutridos em São José da Tapera


Há alguns dias estava lendo uma matéria sobre o trabalho que a Visão Mundial (uma organização não governamental cristã, brasileira, de desenvolvimento, promoção de justiça e assistência, que combate as causas da pobreza, trabalha com crianças, famílias e comunidades) tem realizado em São José da Tapera. Este município no interior de Alagoas ficou conhecido por ter sido apontado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o mais pobre do Brasil e com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com uma taxa de mortalidade infantil superior ao de Serra Leoa, África (147 óbitos a cada 1000 crianças nascidas vivas antes de completarem um ano de idade).
Diante do grave problema da desnutrição, uma das principais causas da grande mortandade infantil no município, a Visão Mundial somou esforços ao trabalho já realizado pela Pastoral da Criança, organismo de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – voltado para o desenvolvimento integral das crianças.
Comentando esse tema com um grupo de amigos, escutei a seguinte crítica da parte de um deles: “Uma organização evangélica trabalhando em parceria com uma organização católica?”. Acredite quem quiser, mas ainda hoje tem evangélicos que carregam sobre o pescoço tal “cabeça dura”.
Compartilhei com o caro amigo o texto de Lucas 5:6,7: “...colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que fossem ajudá-los. Foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique”. Como são importantes as parcerias no serviço cristão no mundo! Imaginem quão grande trabalho temos quanto à questão do socorro às crianças em situação de risco, por exemplo. Quanto mais “barcos” se aliarem mais “peixinhos” poderão ser resgatados da miséria e da morte. Se as organizações cristãs e igrejas trabalharem isoladas, com uma visão “umbilicocêntrica”, voltadas para si mesmas e suas estruturas, sem se abrirem à reflexão e à ação conjunta, irão naufragar no cumprimento da missão integral.
O meu sonho é ver evangélicos e católicos, sacerdotes e leigos, jovens e velhos, pentecostais e tradicionais, se unindo por causas comuns, servindo à missão de Cristo no mundo. Temos que conceber uma nova ética social a fim de sermos mais eficazes no trabalho de cumprir toda a missão de Cristo no mundo. Devemos nos lançar às águas profundas, nos envolver seriamente – e não de forma rasa e superficial – com as graves questões sociais que já não podem mais ser ignoradas por quem se considera cristão. Contudo, é hora também de fazer sinal aos companheiros do outro barco para ajuda mútua. A bandeira do outro barco pode ser diferente (não defendo sincretismo estrutural ou teológico), mas isso não é e não deve ser problema quando o assunto é servir e amar a Deus, servindo e amando ao próximo de maneira prática e concreta.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Você e só você, meu amor...



Acima do meu ministério estará você. Porque o maior ministério que Deus nos confia é o casamento.
Acima dos meus planos estará você. Porque ao nos casarmos os planos serão NOSSOS.
Acima da minha felicidade estará você. Porque me caso para fazer você feliz.
Acima do meu amor por mim mesmo estará você. Porque “quem ama a sua mulher ama a si mesmo” (Ef. 6.28).
Acima do meu prazer e do meu bem estar estará você. Porque “devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos” (Ef. 6.9).
Acima do meu estado de espírito estará você. Porque se estou triste ou alegre, satisfeito ou irritado, tranqüilo ou agitado, não altera o fato de que você é a mulher da minha vida, a qual eu devo amar e cuidar.
Acima das circunstâncias adversas estará você. Porque prometo te amar em todo o tempo, quando o sol brilhar no nosso céu ou quando a noite escura vier sobre nós.
Acima das minhas necessidades estará você. Porque casamento é doar e doar-se ao outro em amor. Não terás jamais que implorar a minha companhia, que solicitar o meu carinho, que disputar a minha atenção, que mendigar o meu amor.
Acima do meu sucesso estará você. Porque se alcancei sucesso foi por você estar ao meu lado.
Acima de qualquer outra mulher estará você. Porque só você me realiza e seguirá me realizando por completo. E se eu quisesse o amor de outras mulheres optaria por continuar solteiro. Porque homem de verdade é aquele que consegue amar a mesma mulher com a mesma paixão a vida toda. Porque “cada um, ame a SUA PRÓPRIA mulher como a si mesmo” (Ef. 6.33).
Acima do tempo estará você. Porque sonho morrer velhinho ao seu lado.
Acima dos bens materiais estará você. Porque você é o meu maior tesouro.
Acima dos nossos filhos estará você. Porque só cumpriremos bem a nossa missão como pais se amarmos com todas as forças um ao outro. Os filhos um dia casarão e se vão... mas eu continuarei ao seu lado.
Saiba que acima de você só estará sempre o meu amor por Deus.

Eu te amo Karla, com todas as forças do meu coração.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Meus pais...


Agradeço a Deus todos os dias por ter escolhido o lindo casal Josias e Nilcéia para serem os meus pais. Ele me criou e me colocou no "Jardim do Éden", que é o meu lar.
Desde que eu e minha irmã nascemos, eles têm dedicado a vida a cuidar de nós e nos oferecer o melhor que podem (não digo apenas coisas materiais, mas muito mais do que isso, oferecem o melhor de si mesmos).
Se hoje sou uma pessoa que procura reger a vida segundo princípios cristãos e tenho um caráter moldado segundo os valores divinos, certamente é devido ao ensino e ao exemplo dos meus pais. Educaram-me não apenas com palavras. Ensinaram-me e ainda me ensinam com as suas vidas. Mostraram-me que o dinheiro e os bens dessa terra não são as coisas mais importantes, mas sim o AMOR a Deus e ao semelhante. Ensinaram-me a simplicidade e a humildade, virtudes que fazem um homem nobre. O amor que recebo deles só pode ser superado pelo amor de Deus. Na verdade, eles são a mais clara demonstração do amor de Deus para a minha vida. EU OS AMo,OS HONRO E PEÇO A DEUS QUE OS RECOMPENSE POR TODO O AMOR DEDICADO A MIM.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"Coisa de Baiano"

Aeroporto de Belém, 8 de dezembro de 2010. Com um grupo de amigos missionários preparo-me para embarcar no vôo com destino a São Paulo, após participar de eventos de Missões no estado do Pará. Acompanha-nos um pastor paraense, um dos responsáveis por nossa hospedagem. Por um descuido qualquer, um dos jovens que nos auxilia, membro da igreja daquele pastor, deixa um carrinho virar e derruba algumas malas. Imediatamente o pastor dispara uma repugnante repreensão: “não faça coisa de baiano!”.
“Coisa de baiano” é uma expressão pejorativamente usada por alguns para se referir a qualquer coisa que seja feita ou falada de forma não desejável. É um termo depreciativo que revela como no nosso país democrático há, lamentavelmente, muita discriminação regional. Quem já não ouviu uma piadinha sem graça sobre o nordestino? Por trás de frasesinhas estúpidas como essa, se esconde um miserável preconceito.
Bem, demorei a escrever esse texto, pois não queria descontar minha raiva através de palavras expostas ao público. Mas não foi possível me conter. Tenho que demonstrar como é grande a minha indignação ao ouvir comentários como esse da boca de alguém que se diz cristão. Não sou baiano de naturalidade, sou fluminense. Mas como brasileiro sou baiano, sou paulista, sou gaúcho, sou cearense, sou do Brasil. Todos que somos filhos da Pátria Amada somos igualmente brasileiros. Não existe raça brasileira ou povo brasileiro superior. São muitos os nordestinos que deram e dão grande contribuição à arte, à música, à política, à ciência, à fé cristã e a outras áreas no nosso país. I love Bahia, I love Rio de Janeiro, I love Brasil!
O que o querido pastor disse não é “coisa de pastor”, ou melhor, não é “coisa de cristão”. Talvez ele não tenha lido nos Evangelhos o que Jesus disse: ‘”cada um deve considerar o outro como superior a si mesmo”. Espero nunca mais ter que fazer uma viagem tão desagradável por causa de um comentário tão banal em algum aeroporto da vida.

Leiam esse texto também no site da editora Ultimato na seção "Palavra do Leitor".

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A irmã Maria

A irmã Maria não é rica, não tem status, não tem um dízimo gordo. Ela mora no morro, é aposentada e ganha um salário mínimo. Ontem ela celebrou as suas Bodas de Ouro.
Ao parabenizá-la por tal conquista em seu casamento, me veio à mente algumas reflexões. Comecei a pensar em tudo aquilo que essa amada irmã tem feito pelo Reino de Deus e pelo próximo.
Ela visita os enfermos nas casas e nos hospitais. E não há sol causticante que a faça desanimar de descer o morro e levar carinho aos doentes. É uma destemida evangelizadora e uma guerreira na oração. Muitas vezes a vi orando fervorosamente pelos missionários envolvidos na tarefa da evangelização mundial. Ela não tem muito dinheiro a ofertar, mas tem as lágrimas sinceras de um coração que se apega com todas as forças a Deus. Nunca vi um trabalho promovido por sua igreja para o qual ela não tenha sido a primeira a se apresentar. Sempre firme no seu lugar, fazendo tudo com amor e alegria. Jamais a vi reclamando, apesar de não ter dinheiro ou bens e enfrentar problemas da vida cotidiana. No seu rosto é sempre possível encontrar um sorriso amável, nos seus lábios, palavras que vêm de Deus, e em suas mãos, obras que glorificam o Senhor.
Ela não sabe teologia, mas conhece a Deus; não sabe definir Paracletologia, mas em sua vida se identifica nitidamente o fruto do Espírito; não entende sobre Kenosis, mas nela há o mesmo sentimento e a mesma humildade que houve em Cristo Jesus.
Nesse tempo de tanta hipocrisia religiosa, de tanta valorização do ter em detrimento do ser, de tanta busca pelo sucesso egoísta dentro e fora das igrejas, de tanta disputa pelo poder eclesial, de tanta manipulação do Evangelho visando vantagens escusas e privilégios inescrupulosos, de tanta soberba ministerial, que o Senhor preserve as “irmãs Marias”. Que vejamos mais pessoas que desejam viver o Evangelho puro e simples, cujo interesse é ver Cristo exaltado e nós diminuídos. Pessoas que queiram servir a Deus e ao próximo, sem esperar recompensas e galardões humanos. Pessoas que se importam em agradar o Mestre.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Oração sincera de um missionário


Senhor, livra-me desse modelo de missionário:

Que se importa com a salvação de almas, mas se esqueço do cuidado de pessoas;
Que faz muitos convertidos, mas poucos discípulos;

Que prega o Evangelho do Reino, mas não demonstra o Evangelho nem os valores do Reino.

Que trabalha por igrejas implantadas, mas não pela melhoria das comunidades sofridas;

Que deseja erguer um templo novo, mas não lutar pela dignidade do povo;

Que deseja hastear a bandeira denominacional, mas pouco se importa com a justiça social;

Que deseja livrá-los do inferno escatológico, futuro, mas e o inferno presente, no mundo?

Que olha para o pobre, oprimido, injustiçado, doente e abandonado e diz: “o problema não é meu nem da igreja, é do Estado”. Isso não é Evangelho integral, mas mutilado, alienado.

Que diz: “meu negócio é levar essa gente pro céu; que se exploda esse mundo, essa babel!”.

Que abre a boca para pregar, mas fecha os olhos não para ver e os ouvidos para não escutar.

Que com o seu pensamento cartesiano separa o corpo da alma imaterial, não vendo o homem como um todo, como um ser integral.

Que tem paixão pelas almas, mas não pelas histórias, pelas vidas.
Que tem muita fé, mas não obras.

Que deseja lá pregar e lá viver, mas com os problemas do povo não se envolver.

Senhor, ao me enviares, me faças ser povo do povo, gente da gente; não quero ser omisso, indiferente. Quero ser um descontente lutador, que não se conforma com o pecado que distancia as almas de Deus, mas também inconformado com a aristocracia que nega aos homens os direitos que são seus.